A Gata
A entrada na puberdade das gatas é tido como a chegada do primeiro cio. Se bem que o primeiro cio pode aparecer entre os 4 e os 18 meses, o mais comum é a entrada em cio ocorrer entre os 6 e os 9 meses de idade.
Estudos comprovam que raças de pelo longo tendencialmente entram em cio de forma mais prematura que raças de pelo curto.
Além da raça, a entrada na puberdade também depende muito da estação do ano, pois além da idade e do peso, as gatas só entrarão em cio na época reprodutiva seguinte.
As gatas são poliéstricas estacionais e ciclam numa média de 6 a 7 dias de 2-3 semanas desde o fim de janeiro/fevereiro até meados de outubro (no hemisfério Norte e mais concretamente em Portugal). O anestro sazonal (altura de ausência de atividade reprodutiva) vai de meados de outubro até janeiro.
A atividade reprodutiva é essencialmente definida pela quantidade de horas de luz solar (duração do dia). Gatas mantidas sob luz artificial por 12horas continuas podem ciclar todo o ano (semelhante ao que acontece perto do equador).
A ovulação das gatas, ao contrário das cadelas (por exemplo), é induzida pela cópula (como nos coelhos e nos furões), podendo em algumas situações mais raras ser espontânea (cerca de 30% dos casos). Se ocorrer ovulação mesmo sem fecundação podemos atrasar a chegada no novo cio por 40 a 60 dias.
Os comportamentos de cio nas gatas incluem vocalização monotónica (frequentemente num tom alto), tornarem-se mais carentes, elevação dos membros posteriores com desvio da cauda para o lado com pequenos movimentos dos membros posteriores, rebolarem-se mais do que o habitual, roçarem-se nas pernas e no mobiliário mais do que o habitual, entre outros. Raramente o cio das gatas está associado a corrimento vaginal como acontece noutras espécies.
Como foi dito anteriormente a ovulação das gatas é induzida pela cópula. O pénis espiculado do macho estimula a libertação de GnRH (Hormona Libertadora de Gonadotropina) pelo hipolátamo. A GnRH vai estimular a produção de LH (Hormona Luteinizante) da pituitária em 2 a 4 horas que por sua vez promove a ovulação.
A quantidade de LH libertada depende do número de cópulas. Gatas que só copulam uma vez, apenas 50% conseguem ovular. Para haver maior probabilidade de engravidar a gata deve copular 4 vezes em 24h para garantir um pico de LH suficientemente alto para induzir a ovulação.
Gatas que ovulam frequentemente sem prenhez associada correm um maior risco de patologias uterinas nomeadamente piómetras, do que gatas que não chegam a ovular. Isto porque após a ovulação os valores de progesterona elevam-se e esta hormona atua a nível uterino estimulando-o.

O Gato
A puberdade nos gatos macho, define-se como a altura em que aparecem os primeiros espermatozóides no ejaculado. Normalmente os gatos macho atingem a puberdade entre os 8 e os 12 meses de idade. O pénis dos gatos macho fica protegido pelo preprúcio e possui 100 a 200 papilas cornificadas vulgarmente conhecidas como espículas.
Estas espículas são hormono-dependentes, nomeadamente dependentes de testosterona daí que após a castração estas espículas gradualmente atenuem até desaparecerem completamente.
Machos adultos e saudáveis, não castrados, são capazes de copular repetidamente por um período de 4 a 5 dias sucessivos sem diminuição do número de espermatozóides libertados.
O fotoperíodo não parece afetar os machos da mesma forma que afeta as fêmeas, dizemos portanto que os machos respondem ao cio das fêmeas em qualquer altura do ano.
A Cópula
O comportamento reprodutivo nos gatos é imprevisível e rápido às vezes até um pouco agressivo. A cópula consiste na monta (gato sobre a gata) habitualmente com o macho a morder o pescoço do fêmea, ereção do pénis, penetração, ejaculação, saída do gato e a pós-reação da gata.
Dentro das pós-reações que as gatas exibem quase 77% delas ficam momentaneamente agressivas para o macho, 92% fazem lambedura vulvar e 99% começam a rebolar sobre si mesmas emitindo um som chamativo do macho. Toda a sequência da cópula pode durar 30 segundos a 10 minutos.
São as espículas do pénis do macho que estimulam a vagina caudal e induzem a ovulação.
Se precisamos de fazer inseminação artificial, precisamos primeiro de induzir a ovulação com administração de hormonas que estimulam a produção de LH. A recolha do sémen do macho pode ser feita de várias formas (dependendo do treino que o gato possa ter) sendo que a mais comum é por capilaridade.
A taxa de sucesso da inseminação artificial, ronda os 57 a 78% e nesta espécie requer anestesia geral para poder ser corretamente realizada.
Outras técnicas reprodutivas avançadas como transferência de embriões e produção de clones já foram realizadas com sucesso laboratorialmente mas não estão disponíveis na prática clínica.

A Gravidez
Os principais sinais de prenhez incluem dilatação abdominal, aumento do apetite, aumento da glândula mamária com produção de leite, nas fases mais avançadas da gravidez a procura pelo ninho aumenta e a mãe tende a apresentar um comportamento mais calmo.
No entanto às vezes as gatas desenvolvem gravidezes psicológicas manifestando todos estes sinais mas não estando grávidas.
O meio de diagnóstico mais precoce e fidedigno para apurar se uma gata está grávida ou não, é a ecografia a partir dos 21 – 30 dias de gestação. Radiograficamente também é possível fazer esse diagnóstico mas apenas após o dia 40 – 45 de gestação.
Enquanto que a ecografia nos permite avaliar a morfologia dos fetos bem como a sua vitalidade a radiografia permite acima de tudo uma contagem mais exata do número de bebés.
A duração da gravidez das gatas varia de 62 a 71 dias. Esta variabilidade é em parte consequência do tempo necessário para atingir o pico de LH (múltiplas cruzas) e consequentemente a ovulação.
A média de gatinhos numa gestação é à volta de 4 (sofrendo algumas variações de raça para raça).
Como as gatas podem cruzar com diferentes machos durante o mesmo ciclo reprodutivo, tal pode dar origem a que na mesma ninhada possamos ter gatinhos de pais diferentes.
É importante permitir que a gata grávida possa realizar algum exercício regular e moderado por forma a manter uma boa condição corporal e tónus muscular, que trará benefícios durante o parto.
Durante este período as necessidade energéticas da mãe mudam e é necessário haver uma transição da alimentação no último terço de gestação para comida mais energética. Existem no mercado marcas que desenharam comidas adaptadas a mães grávidas e lactentes, em alternativa pode ser fornecida comida para gatinhos bebés.
Para não tornar o parto muito complicado é importante que a mãe não esteja obesa, daí que o aconselhamento veterinário no que diz respeito ao timming de transição da alimentação bem como das quantidades diárias a fornecer.
As vacinas e outros tratamentos médicos como anti-fungicos, devem ser evitadas nesta da fase da vida (algumas vacinas bem como alguns medicamentos podem ter efeitos teratogénicos sobre os bebés).

O Parto e a Criação dos Gatinhos
Situações de distócia (parto difícil) são raras nos gatos, apresentando apenas uma incidência de 3% nesta espécie.
De entre as causas mais comuns para distócia sem dúvida que nas gatas surgem em primeiro lugar causas relacionadas com a mãe (sendo a mais comum inércia uterina primária) e só raramente causas relacionadas com os fetos (mau posicionamento fetal).
Cientificamente não existe nenhuma correlação entre distócia e a idade da mãe ou o número de bebés da ninhada.
Perante uma situação de distócia pode ser possível atuar medicamente com recurso a fármacos que auxiliem a contração uterina embora na maior parte dos casos a resolução seja cirúrgica com recurso a cesariana de urgência.
Tendencialmente os partos ocorrem à noite e ao contrário de outras espécies não existe nos gatos uma correlação positiva entre o baixar da temperatura corporal da mãe e a entrada em parto.
O parto apresenta três estados ou fases:
- dilatação e perda de líquidos (menos de 2h)
- passagem dos bebés (em média até 6h)
- saída das placentas
A segunda e a terceira fase normalmente intercalam entre si. A saída dos gatinhos é considerada normal quer eles se apresentem com os braços para a frente quer se apresentem com as pernas.
Um parto normal numa gata pode demorar 4 a 42 horas, sendo que o tempo médio mais comum é de cerca de 8 horas.
A taxa de mortalidade de neonatos é superior em ninhadas de um só bebé ou nos bebés que nascem com peso muito baixo. E é baixa em gatas que parem em adultas, com uma boa condição corporal e com ninhadas de 4 a 5 gatinhos.
Nas primeiras 48h após nascimento o intestino dos gatinhos apresenta-se permeável à absorção de anticorpos presentes no leite materno (colostro). Daí a importância de mamarem leite materno principalmente nos primeiros dias de vida.
Esta imunidade maternal vai-se perdendo gradualmente ao longo do tempo e daí a necessidade de iniciar o protocolo vacinal perto das 8 semanas de vida do gatinho (altura em que em média a imunidade maternal já apresenta valores insuficientes para proteger o filhote).
Segundo as Guidelines Internacionais da WSAVA (World Small Animal Veterinary Association), para uma correta imunização (vacina trivalente), a primeira vacina deve ser administrada pelas 8 semanas, reforçada passadas 3 a 4 semanas e a última vacina do primeiro ciclo de vacinação deve ser administrada às (ou após as) 16 semanas.
O que significa que na maioria dos casos os gatinhos necessitarão de 3 reforços da vacina trivalente para poderem estar corretamente protegidos.
Nesta fase da vida dos gatinhos também se dá início ao processo de desparasitação. Desparasitação interna quando falamos de parasitas intestinais e desparasitação externa quando falamos de parasitas externos como pulgas, carraças, ácaros ou piolhos.
Os parasitas intestinais podem passar pela placenta ou pelo leite maternal da mãe para as crias. O ciclo de vida destes parasitas ronda os 15 dias em média pelo que iniciamos o plano de desparasitação aos 15 dias de vida do gatinho. As parasitoses intestinais condicionam o saudável desenvolvimento dos bebés pelo que é extremamente importante cumprir o plano de desparasitação recomendado pelo veterinário assistente.
Alguns parasitas mais específicos requerem desparasitantes próprios pelo que se deverá realizar análises às fezes para determinar que tipo de parasita se encontra presente.
A desparasitação externa deve ser adaptada também à idade e ao peso e deve ser realizada para evitar infestações de parasitas em casa.
A partir do dia 21 de vida os gatinhos começam a desenvolver a capacidade de digerir algo mais do que o leite maternal e é nesta idade que deve ser iniciada a alimentação sólida. Inicialmente deve-se optar por comida húmida fornecida com auxílio de uma seringa porque o gatinho não sabe mastigar, apenas mamar e gradualmente pode-se aumentar a consistência da papa.
Para evitar dificuldades na digestão bem como permitir uma secagem gradual do leite da mãe (sem causar problemas) o número de refeições de papa deve ir aumentando de dia para dia. À medida que vão ingerindo comida gradualmente mais sólida é necessário disponibilizar água para que se possam manter hidratados e saudáveis.

Socialização
Os gatinhos aprendem a socializar com a mãe e com os seus irmãos de ninhada. Esta aprendizagem nunca poderá ser substituída de igual forma por um humano, daí que os bebés não devem sair da mãe antes dos dois a três meses de vida.
Quando os gatinhos têm contacto regular com humanos antes das 10 a 12 semanas de vida, habitualmente fazem-nos confiar mais na nossa espécie evitando possíveis fobias futuras. Para aumentar a ligação humano – gatinho, pode-se entrar em brincadeiras com ele, usar brinquedos interativos, fornecer alguns alimentos à mão, acariciar o gatinho várias vezes, entre outros pequenos gestos carinhosos que gostem.
A introdução de um novo gato em casa pode requerer uma socialização adicional principalmente em gatos(as) mais velhos(as). Alguns gatos adultos mais territoriais vão sempre ver o novo gato como um intruso e isso pode levar a comportamentos indesejados como marcação de território com urinar em locais inapropriados, defecar à porta da caixa da areia (liteira) ou atirar a areia toda para fora e em último caso podem entrar em confrontos físicos (lutas).
Os gatos devem ser introduzidos a qualquer outro novo animal de forma gradual. Numa fase inicial permitir apenas que se cheirem através de uma porta sem se verem, passado um ou dois dias se ambos parecerem calmos deve-se prender alternadamente um e outro e permitir que o que não está preso vá explorar o território do outro, e passados mais um dia ou dois se ambos permaneceram calmos abrir a porta que os separa e permitir que se vejam sem forçar esse contacto, deixando que tudo ocorra com o máximo de naturalidade possível e sempre sobre supervisão e inicialmente por períodos curtos mas que gradualmente vão sendo maiores.
Muitas vezes é necessária uma boa dose de paciência para fazer com que a adaptação ocorra, podendo levar 6 meses ou mais até que o novo gato se integre completamente na nova casa e com os outros gatos.
Fontes:
https://wsava.org/wp-content/uploads/2020/01/WSAVA-vaccination-guidelines-2015-Portuguese.pdf
https://www.dvm360.com/view/feline-reproduction-overview-proceedings
https://www.vin.com/apputil/content/defaultadv1.aspx?pId=11223&catId=31441&id=3859260
Autor: Drª Diana Meireles
